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Garmin Tread

Artigo publicado na Revista Overland Portugal

Qualquer viajante ou aventureiro certamente conhece a marca Garmin. Para muitos é sinónimo de aparelhos GPS, dado serem a principal marca que vende este tipo de dispositivos. E apesar de estarem desde sempre ligados ao mundo do todo-terreno e viagens Overland, foi nos últimos anos que a Garmin lançou os seus modelos mais vocacionados para este tipo de atividades. Falo pois do Overlander (2019), família Montana 7XX (2020) e família Tread (2021-2022). Destes 3, o Montana é o único que já vem de uma linhagem de GPS anterior e que apesar de ser mais vocacionado para atividades outdoor, está perfeitamente adaptado para todo-terreno e viagens Overland. O Tread, como veremos em seguida, é uma espécie de sucessor do Overlander, existindo atualmente em 3 versões diferentes, umas mais vocacionadas para todo-terreno e outra para viagens Overland, que inclusive partilha este mesmo nome. Existe um outro, o famoso GPSMAP 276Cx, também muito usado no todo-terreno mas devido ao seu sistema mais arcaico com botões, é um GPS específico para situações mais extremas que não se enquadra neste comparativo.

Para este comparativo, a loja de GPS RMS cedeu-me um Tread versão base que usei em conjunto com o Overlander e o Montana durante algumas viagens todo-terreno a fim de perceber o que a Garmin implementou neste novo aparelho GPS. Segue-se um descritivo de como usei os aparelhos num desses dias.

Planear a viagem

Antes de qualquer viagem todo-terreno, é imprescindível delinear o percurso que queremos fazer. A forma mais rápida de o conceber é escolher pontos de rota que o software automaticamente une passando nos caminhos de terra existentes. Para isto ser funcional o software tem de ter perfis específicos para atividades todo-terrenos onde privilegia os caminhos de terra às estradas alcatroadas. Tanto o Tread como o Montana têm esta opção se bem que com algumas diferenças. O Montana, criando um perfil automóvel com preferência para caminhos de terra ou um de Btt com a mesma preferência, permite criar uma rota entre vários pontos passando pelos caminhos de terra que o mapa tenha nessa zona. É preciso ter em conta o mapa que estamos a usar para criar a rota dado que tem influência nos caminhos ou estradas que escolhe. O Tread é uma evolução do sistema de perfis e criação de rotas do Montana mas mais específicos para todo-terreno. Podemos colocar as dimensões do veículo, altura ao solo, velocidade máxima entre outros parâmetros.

Depois, no planeador de rotas, o software tem estes parâmetros em conta e faz uma coisa que mais nenhum outro faz. Apresenta várias opções de rotas todo-terreno, com vários níveis de dificuldade, de 1 a 4 e podemos ver e comparar cada uma delas. Mais uma vez, tal como no Montana, os caminhos escolhidos pelo planeador de rotas dependem do mapa escolhido. Todos os GPS aqui retratados permitem instalar mapas personalizados, nomeadamente os topográficos baseados em OSM. A vantagem destes mapas é que têm mais caminhos de terra que os mapas base da Garmin e permitem roteamento automóvel ao contrário dos Topo Active da Garmin que são baseados nos mapas OSM mas não permitem roteamento automóvel, apenas pedestre, de bicicleta entre outros. Com estes mapas, por vezes o planeador apenas apresenta 2 alternativas de rotas ao invés das 4 com mapas Garmin. A apresentação de várias hipóteses de rotas é comum nos softwares de navegação em estrada como Google Maps ou Sygic, mas nos de todo-terreno nunca tinha visto. A título de exemplo, tanto o OSMAnd e o Locus Maps, dois dos mais completos softwares todo-terreno, só apresentam uma alternativa de cada vez. Se tivermos o telemóvel à mão, a App Tread também permite criar rotas com as mesmas características que o aparelho e perfis. Aliás, é inclusivé mais rápido a criar as rotas e ficam logo disponíveis no Tread.

Em viagem

Navegação em estrada

Planeamento criado e segue-se a viagem. A primeira coisa a fazer é navegar por estrada até ao começo da rota que vamos apanhar. Todos eles permitem este tipo de navegação mas o Montana apresenta menos funções que o Tread e Overlander que são praticamente idênticos neste aspeto. A principal diferença destes últimos reside na visualização do trânsito. No Overlander a receção de informação de trânsito é via rádioHD o que não é tão eficaz, além de que em Portugal nem sequer recebe estas informações. Também é necessário um cabo específico para a receção do sinal rádio. No Tread esta informação vem através da App Tread via internet sem qualquer acessório adicional. O Tread funciona muito melhor neste aspeto e é muito idêntico ao que estamos habituados no Google Maps. Se existir trânsito na rota que estamos a fazer, ele avisa antecipadamente e propõe rotas alternativas se for viável. Importante não esquecer de selecionar o perfil adequado para condução em estrada no Montana e Tread, caso contrário o aparelho irá calcular a rota com base no perfil que está o Garmin Explorer

Chegámos ao início da rota que queremos realizar e começamos a procurar a mesma para usar. Com exceção do Montana que não tem capacidade de organização em coleções ou pastas, o Tread e o Overlander apresentam no mapa do GPS os dados que temos no explore da Garmin. A única diferença entre eles é que no Tread aparecem no único mapa que tem, o de navegação, enquanto no Overlander temos a App Explore à parte do mapa de navegação. As funções e organização são, apesar de tudo, idênticas entre eles. No caso do Montana, temos de sincronizar com o Explore do telemóvel e escolher as rotas ou percursos que queremos usar selecionando a coleção a sincronizar. As capacidades de organizar dados neste GPS são muito inferiores aos outros 2.

Navegação todo-terreno

Escolhida a rota e temos logo um pequeno problema. Uma das diferenças das rotas para os percursos GPX é que as rotas estão dependentes do software e mapas que usamos para navegar. O que significa que mesmo que a mesma rota esteja em todos os aparelhos, vão sempre existir diferenças entre eles. E no caso do Overlander, como não tem perfil todo-terreno, tende a seguir por estradas alcatroadas o que inviabiliza este tipo de navegação em todo-terreno. O Tread é especialmente indicado para criar e seguir rotas todo-terreno. De certa forma torna a navegação todo-terreno idêntica à navegação em estrada, mas por caminhos de terra. Apenas está limitado pelo mapa e detalhe do mesmo.

Mais à frente deixamos a rota e usamos o percurso GPX marcado antecipadamente. Se pretendemos algumas informações como distância até ao fim do percurso entre outras, no Tread e no Montana é possível roteamento. O Overlander não permite nada disto. Seguimos o percurso manualmente sem quaisquer indicações. O Explore do Overlander é especialmente indicado para esta forma de navegação todo-terreno com um mapa simples e muito completo em termos de caminhos e estradas.

Tread no Overlandanding

O fim do dia aproxima-se e torna-se necessário encontrar um local para passar a noite. Tanto o Overlander como o Tread vêm com base de dados da iOverlander e da Park4night para nos ajudar a encontrar alguns locais, mas a minha forma favorita é pesquisar o mapa, preferencialmente com imagens satélite, para encontrar possíveis locais isolados. Mais uma vez o Tread destaca-se com as suas imagens satélite offline. Uma pequena zona de pinheiros, apenas percetível nas imagens satélite e afastada da estrada, parece ser o ideal e assim nos dirigimos para o local da pernoita a fim de comprovar que as imagens de satélite não nos enganaram. Com o Overlander ou o Montana apenas temos a hipótese de usar os mapas tradicionais e fica difícil de perceber certas nuances do terreno, só percetíveis com fotografias.

Depois de chegarmos ao local de pernoita, marca-se o ponto, procedimento comum a todo os GPS e salva-se o percurso gravado. No Tread e no Overlander pode-se logo escolher a coleção onde pretendemos guardar o percurso e se estivermos conectados ao telemóvel no Tread ou à internet no Overlander ambos ficam gravados no Explore da Garmin. No Montana é sincronizado para uma coleção específica do Explore no telemóvel. Apesar de procedimentos diferentes todo este processo de sincronização funciona perfeitamente e é a melhor forma de passar dados entre os GPS e os telemóveis.

Tread, revolução ou evolução nos GPS todo-terreno?

Funcionalidades de navegação

Como descrevi acima no comparativo que realizei entre os três aparelhos, facilmente se percebe que o Tread é o mais completo GPS para todo-terreno que a Garmin já criou. Faz tudo o que os outros fazem e ainda acrescenta algumas funcionalidades como os perfis de veículos todo-terreno e as rotas todo-terreno classificadas por níveis de dificuldade. E ainda acrescenta um planeador de rotas muito completo que pode ser usado igualmente no telemóvel. Fica a faltar possibilidade de salvar as rotas em percursos GPX para poderem ser editadas no editor de percursos incluído. Neste aspeto é uma diferença enorme para o Overlander que não tem nenhuma ferramenta para criar rotas ou percursos todo-terreno. O facto de não termos o mapa do Explore como no Overlander, acaba por não prejudicar muito, dado que no mapa do Tread conseguimos ver todos os percursos e pontos que colocamos visíveis.

Performance

A primeira experiência com o Tread não foi a melhor neste ponto. Era invariavelmente lento, principalmente na edição e criação de rotas onde demorava cerca de 10 a 20s para abrir o planificador. Só depois é que percebi a razão. Tinha todos os percursos e pontos do Explore visíveis. Estou a falar de centenas de percursos espalhos por parte da Europa e Marrocos. Logo que retirei a visibilidade ao que não pretendia visualizar, melhorou imenso neste aspeto. No entanto não é um aparelho muito rápido. É idêntico ao Montana e menos fluído que o Overlander. De notar que esta é a versão base e a versão Overland e XXL tem processamento diferente dado que tem sistema operativo Android o que poderá fazer diferença. Infelizmente não tive oportunidade de experimentar essas versões.

Robustez, ecrã e bateria

Qualquer um dos GPS Garmin são robustos mas o Overlander não tem qualquer proteção contra água. É feito apenas para ser usado no interior do veículo ao contrário do Montana e do Tread. Os ecrãs são perfeitamente visíveis sob luz solar, uma característica típica destes aparelhos. Aqui é preciso ter em conta as outras versões do Tread que têm ecrãs maiores que o Overlander, que é uma vantagem para veículos maiores. Em termos de bateria o Montana é superior em larga margem aos outros 2, mas é de realçar que não é uma característica propriamente importante para viagens todo-terreno dado que por norma os aparelhos estão sempre ligados à corrente elétrica.

Outras funcionalidades

Tanto o Overlander como o Tread permitem adicionar câmeras ao veículo e têm suportes magnéticos muito práticos para colocar e remover o aparelho. Não tive oportunidade de experimentar no Tread mas no Overlander as câmeras funcionam muito bem, imagino que no Tread seja idêntico. Todos eles vem com altímetro e barómetro mas apenas o Tread e o Overlander vêm com um inclinómetro, muito útil para aquelas passagens mais inclinadas. As outras versões maiores do Tread vêm com sistema Inreach, rastreador e comunicador por SMS de satélite da Garmin, tal como no Montana. É uma mais-valia para viagens em destinos remotos. Tanto o Tread como o Montana, ao estarem sincronizados com o telemóvel permitem adicionar notificações do telemóvel, meteorologia entre outras coisas, mas o Overlander não tem esta funcionalidade.  O Tread além disto tem rastreador de cães, monitor de viagens em grupo, controlador de acessórios, entre outros. No entanto é preciso adquirir acessórios específicos para cada uma das funcionalidades.  

Androids e Tread

É impossível nos dias de hoje não considerar os aparelhos Android como sistemas de navegação. Longe vai o tempo em que o sistema GPS dos aparelhos Android não era muto preciso. Nos atuais Androids pouco ou nada se nota em relação ao um GPS dedicado, pelo menos para navegação as diferenças não são relevantes. E a verdade é que em muitos aspetos são superiores aos GPS dedicados. Além das imensas Apps de navegação em estrada semelhantes ao que o Overlander e o Tread proporcionam, mesmo em offline, têm a possibilidade de usar o motor de busca da Google para encontrar qualquer local no mapa, muitas vezes impossível de encontrar nos GPS dedicados. Praticamente todas as funcionalidades que descrevi, como criação de rotas, gestão de dados, roteamento todo-terreno e imagens satélite online e offline são possíveis num aparelho Android. E algumas nem sequer existem em nenhum dos GPS como criação e edição de percursos. A variedade de mapas também é superior, pelo menos no nosso país e Europa onde a Garmin não tem tantos mapas específicos, além de permitirem adicionar uma série de transparências como curvas de nível e declives. Curiosamente, as Apps de navegação todo-terrenos não permitem visualizar os mapas em 3D e com altitude. Algo presente em todos estes Garmin. Em termos de performance, qualquer aparelho Android moderno é mais rápido e fluído que os GPS dedicados podendo ser possível ter várias Apps de navegação abertas ao mesmo tempo sem sacrificar performance.

Mas os GPS dedicados também tem vantagens. São mais simples de usar, principalmente para quem não está habituado a estes softwares, e já vêm preparados de origem com tudo o que é necessário para navegação. Num aparelho Android, temos de adquirir as Apps, personalizar cada uma delas e ainda aprender a usar cada uma delas, o que nas mais completas como o OSMAnd e Locus requer alguma dedicação. Além disto, funcionalidades como câmeras, comunicação via satélite ou monitorização em viagens de grupo não existem nos aparelhos Android. Mas a maior desvantagem dos aparelhos Android é o ecrã. Apesar de existirem tablets e telefones robustos, os ecrãs de muitos destes aparelhos são difíceis de ver em situações de luminosidade muito forte. Isto é especialmente notório na maioria dos tablets que apresentam níveis de brilho muito inferiores aos que os GPS dedicados conseguem. Depois temos a questão do aquecimento quando sujeitos a sol durante algum tempo. Mesmo um tablet Samsung Active 3, especialmente criado para situações extremas, reduz o brilho do ecrã quando está sujeito a sol direto em tempo quente durante algum tempo. Já para não falar de que muitos telemóveis perdem sinal GPS ou desligam-se quando ficam muito quentes. Estas situações não acontecem com o Montana ou o Overlander. No caso do Tread não cheguei a experimentar estas situações mais extremas, mas presumo que seja idêntico aos outros Garmin.

O caso especial Overlander

Mas e se um GPS Garmin poder ter as vantagens do Android incluídas? É o que acontece com o Overlander. É que além deste aparelho ter o sistema Android tem uma particularidade curiosa. É um sistema relativamente aberto ou seja, apesar de não ter serviços Google e não ser possível instalar Apps através da Play Store, é possível instalá-las manualmente. O que significa que na prática ficamos com um GPS Garmin, não tão completo como o Tread é um facto, mas podendo instalar Apps Android tais como Google Maps, Locus Maps ou OSMAnd, fica com mais funcionalidades para navegação em todo-terreno que o Tread. E mantém a navegação Garmin, a possibilidade de colocar câmeras e o excelente ecrã típico destes GPS. É claro que instalar Apps manualmente não é para todos e requer conhecimento de como fazer.

Resumindo, qual o melhor GPS para Todo-terreno?

Bem, depende. Se pretendemos um GPS pronto a navegar sem ter de comprar mapas ou instalar Apps, o Tread é a melhor opção. É também a única opção para monitorizar viagens em grupo desde que todos no grupo tenham um Tread. É preciso ter em conta os diferentes preços das respetivas versões dado que apesar da versão base ter um preço idêntico ao Overlander, tem um ecrã mais pequeno, idêntico ao Montana. Para as versões com ecrã maior o preço é o dobro, mas inclui o Inreach!

Se somos entendidos em Android e conseguimos usar o aparelho longe de luz solar intensa, um tablet ou mesmo o próprio telemóvel pode ser indicado. Ter em conta que se pretendemos obter o Inreach este tem de ser adquirido à parte. Esta é também a hipótese mais em conta já que todos nós já temos um telemóvel e certamente é adequado para navegação. No entanto se pretendemos comunicação Inreach, esta tem de ser adquirida à parte.

Se sabemos como instalar Apps manualmente e pretendemos o melhor de dois mundos, ou seja navegação Garmin e navegação Android, o Overlander é a opção ideal. Pelo menos até perceber se as versões Android do Tread também aceitam Apps externas. Ter em atenção que o Overlander não tem proteção contra água de modo que só é adequado a veículos fechados. Tal como no caso anterior, o Inreach tem de ser obtido à parte.

Se além de todo-terreno também realizamos outras actividades outdoor como btt ou trekking e só pretendemos adquirir um aparelho, o Montana é a escolha ideal. É o canivete suíço da Garmin, não é o melhor para todo-terreno, mas serve para todo tipo de atividades além de ter uma autonomia muito boa. E ainda inclui a comunicação satélite do Inreach.

Posted in Equipamento, Equipamento Overland

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